Saga da Cidadania Italiana - Régis Silotti

Conhecer a história de nossa família e de nossa ascendência sempre me motivou a buscar informações para que um dia eu pudesse montar a Árvore Genealógica e tirar a cidadania italiana.

Vou começar pela parte mais difícil. O Agendamento no Consulado Italiano no Rio de Janeiro. Achou que seria a documentação italiana?? Ledo engano, no meu caso a maior dificuldade encontrada foi marcar o agendamento. Em relação as certidões, já sabia mais ou menos como encontrá-las, pois na família temos parentes que conseguiram a cidadania.

O agendamento é realizado eletronicamente no site do Consulado Italiano do Rio de Janeiro e poucas vagas são disponibilizada por dia. Então, tem que ficar tentando todo dia. Assim, passei alguns anos entrando no sistema de agendamento insistentemente todos dias às 19:00hs (meia noite no horário italiano). Depois de algumas batidas na trave (data verde, conseguir ir até o horário ou ficar nos caracteres). Em novembro de 2018, consegui, finalmente, a marcação do agendamento para o dia 07/11/2019. Desse momento em diante, passei a contar cada dia, pois o sonho estava próximo, ou quase... ainda faltava um ano até o dia para a entrega da documentação no consulado.

Antes de continuar minha saga pela cidadania, vou falar da grafia de nosso sobrenome. Primeiramente, eu achava a escrita do meu sobrenome a correta:Silotti, pois sabia que alguns parentes foram registrados com Siloti e outros com Silote. Mas qual é a correta? Em meados do ano 90, buscando documentos para meu tio Cezário, fiquei desiludido quando vi na segunda via certidão de nascimento do vovô Francisco Antônio  que constava o sobrenome Cilotte, que tristeza... Em 2018, quando fui preparar a documentação para reconhecer minha cidadania, consegui uma cópia da certidão original de nascimento do vovô no Cartório de Jaciguá em Vargem Alta - ES, estava anexada ao registro de casamento, e nela constava Siloti. Melhorou muito em relação a grafia com “C” e “e” no final. Tinha medo de ter que retificar meus documentos para conseguir a cidadania italiana e perder minha grafia com "tt" e "i" no final, pois muitos falavam que eu teria que retificar o sobrenome caso fosse diferente do italiano. Mas vamos reunir a documentação primeiro e deixar a retificação por último, se for realmente exigido pelo Consulado.


Certidão de Nascimento de Francisco Antônio - 04/10/1907

Durante minhas pesquisas, descobri outra grafia: Sillot. Constava no site do Arquivo público do Estado do Espírito Santo, no Registro de Entrada de Imigrantes. Como tinha o aval de um órgão público, acreditei ser esta a grafia correta. Quando fui pessoalmente ao Arquivo Público e solicitei vistas aos documentos originais, observei que o sobrenome constante nos livros era Silot. Então, solicitei a correção ao Arquivo Público Estadual que, prontamente, abriu uma averiguação e procedeu a correção com a atualização do site  na grafia constante nos registros de entrada de imigrantes e do  Assentamento de Colonos da Ex-Côlonia Castello, ou seja, Silot.

Registro de Entrada de Imigrante - APES 

Para confirmar se a grafia Silot seria a mesma da original italiana. Lembrei que meu tio Cezário Silotti tirou a cidadania há muito tempo atrás e conseguiu o registro de nascimento do italiano, no caso Sebastiano, diretamente na Comune de Sacile em Pordenone na Itália. Como ele tinha distribuído algumas cópias na família, consegui com tia Ana uma foto deste documento que eu considero o mais importante. E lá estava a grafia correta: Silot. Então, somos todos SILOT


Registro de Nascimento de Sebastiano Domenico Silot - em Sacile - Itália.


Voltando a saga... Com o agendamento marcado, o jeito era esperar o ano novo para solicitar as certidões, pois algumas (as de casamento) tem prazo de validade. Em janeiro de 2019, comecei a tirar a documentação. No final de fevereiro já estava com toda as certidões emitidas em inteiro teor. Porém, isso não era bastante. Em conversa com o amigo Ademir Carletti, que também tirou sua a cidadania a pouco tempo, e me alertou da necessidade de fazer outros procedimentos. Prontamente, o amigo se dispôs a me ajudar. Para isso, algumas garrafas de vinhos seriam suficientes. Assim sendo, num sábado chuvoso de março, o amigo Ademir Carletti e sua digníssima esposa Jacinta compareceram em minha residência para conferência das certidões. Juntos de minha esposa, Damiany, e entre um vinho e outro (italiano, é claro) analisamos toda a documentação. E percebemos que ainda faltava muita coisa ainda... iria precisar de mais vinho... faltava o reconhecimento de firma dos tabeliães, os apostilamentos, as traduções e Certidão Negativa de Naturalização - CNN. Muito obrigado pela ajuda amigo Ademir Carletti.

 Os amigos Ademir Carletti e sua esposa Jacinta, minha esposa Damiany e eu, Régis Silotti.

Novamente, recorrendo aos amigos e parentes, agora contado com a ajuda do primo Patrick Siloti, que me passou o contato de sua tradutora em Vila Velha-ES, pude traduzir todas as minhas certidões para o idioma italiano.

 Primo Patrick Siloti me passando detalhes de nossa descendência.

Com toda documentação traduzida e reconhecida faltava somente o apostilamento, que fiz sem maiores complicações no cartório em Vitória-ES. O apostilamento é um certificado que autentica a origem de um documento público para sua utilização em outro país, no nosso caso a Itália.

A Certidão Negativa de Naturalização  retirei no site do Ministério das Relações Exteriores e a materializei no cartório juntamento com o seu apostilamento. Esta certidão comprova que o cidadão italiano não se naturalizou brasileiro e assim pode passar o direito à cidadania italiana.

Com tudo pronto, agora era só esperar o grande dia, 07.11.19. Mais antes, conferindo, todo os dias, o sistema do consulado, para ver se o agendamento continuava confirmado.

Passado alguns meses, o tão esperado dia estava próximo. Então, fiz a última conferência da documentação e, ainda, faltava anexar o comprovante de endereço, coisa fácil, né? nada... A companhia de energia tinha acabado com o envio da conta impressa, assim não tinha nenhuma conta válida, as que eu encontrei passava de um ano. Agora, correria para conseguir um comprovante válido. Fui na empresa de energia elétrica e solicitei a segunda via da conta e exigi, também, o carimbo da empresa. Ufa, consegui.... Toda documentação, enfim, pronta. Na Véspera do dia 07.11 partir para o Rio de Janeiro de avião para não haver imprevistos. Chegou o grande dia. Quase não dormi a noite, grande era a ansiedade e o medo de algo estar errado na documentação. Levantei ainda de madrugada, a cidade maravilhosa estava escura. Esperei o horário do café da manhã ser liberado para tomar uma xícara de café e seguir para o consulado italiano. Cheguei às 7:08hs na porta do consulado e uma fila se formava, fui o sexto. Agora é esperar o consulado abrir, e enquanto isso, conversar com os amigos da fila - o assunto era só: a realização do sonho da cidadania italiana . A hora voou e minha entrada foi liberada. Mais uma hora de espera, já dentro do consulado, e finalmente fui chamado para apresentar a documentação. Guichê 9, lá vou eu... Adrenalina a mil. Retirei a documentação da pasta e entreguei-a a atendente consular. Por sorte, foi a melhor atendente do Consulado. Conferiu todos os nomes e as datas. Não precisou retificar o sobrenome e continuei com o Silotti. 

Finalmente a atendente falou as palavras inesquecíveis: "a partir de hoje você é um cidadão italiano, parabéns". Lágrimas rolaram... aí passa o filme na cabeça: a família partindo para uma nova vida, um novo mundo, uma viagem de navio infinita e cheia de intempéries, as crianças chorando, a saudade dos que ficaram e da vida que tinham lá, a chegada em uma terra inóspita, o sonho transformado em pesadelo, a mata fechada e os insetos. Mas a garra, o trabalho e o amor fizeram construir na "américa" uma linda história e uma grande família.


Fotos: https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Imigração_italiana_no_Brasil#/media/Ficheiro%3ANaviodeimigrantes.gif


Dedico esta vitória a minha filha Maria Luísa Silotti para que possa continuar a história da família Silot e agora como uma legítima italianinha.

Autor: Régis Vicentini Silotti
       
                               

Comentários

  1. Nossa morei 8 anos na Itália e tb fui pessoalmente em Sacile buscar esse documento, meu problema era a documentação do BR. hoje moro em Portugal e até vi com alguns advogados aqui p dar entrada. Vc lutou bastanra, persistiu e graças a Deus conseguiu. Parabéns pela Vitória.

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